A Herança de Eszter, Sándor Márai | Opinião Livros


Capa do livro A Herança de Eszter.
 Sinopse:
Durante vinte anos Eszter viveu uma existência cinzenta e monótona, fechada sobre si própria, esperando a morte e sonhando com o retorno de um amor impossível. Até ao dia em que, inesperadamente, recebe um telegrama de Lajos, o único homem que amou e graças ao qual encontrou, por um breve período, sentido para a sua vida. Grande sedutor e canalha sem escrúpulos, Lajos não só traiu Eszter como destruiu a sua família, tirando-lhe tudo o que possuía. Agora, depois de uma ausência prolongada regressa, e Eszter prepara-se para o receber comovida e perturbada por sentimentos contraditórios.



Opinião:
Já li este livro à muito tempo atrás e já tinha escrito esta opinião nessa altura, sendo a mesma publicada noutro site, mas este livro foi tão importante para mim que não podia deixar de colocar a opinião no meu blogue.

A Herança de Eszter traz-nos um relato cru, mas ao mesmo tempo belo, do passar do tempo e de como este leva à perda da inocência e ao esmorecer dos nossos sonhos e esperanças.

Eszter, a protagonista desta história, encontra-se na fase final da vida (apesar de não ser muito velha, a sua vida parece estar próxima do fim), podemos dizer que viveu o melhor que pode, ou que simplesmente esperou pouco da vida, mas a verdade que nos é revelada, à medida que tomamos conhecimento da sua história e do seu grande desgosto de amor, é ainda mais fatalista.

Eszter vive sozinha com Nunu, prima, criada e sua antiga ama, com escassos recursos numa mansão degrada que foi em tempos o máximo expoente da riqueza que a sua família outrora possuiu. A sua vida é pacata e simples com todos os seus rituais monótonos do quotidiano, os seus dias parecem passar sem a menor das emoções até ao dia em que Lajos retorna. Lajos seu antigo amor, o homem que a trocou pela sua irmã mais nova e esbanjou todo o património daquela família. O homem que enganou a todos, com o seu charme fácil e as suas notáveis habilidades de ator.

Lajos retorna para roubar de Eszter a única coisa que ainda lhe resta, a casa onde viveu toda a sua vida, para todos nós e para a própria não podia haver nada mais claro. É aí que reside toda a forte carga de fatalismo desta história, onde uma mulher prestes a partir deste mundo decide-nos contar uma história sem grandes elaborações, a sua própria história. O que nos é contado não é agradável, Eszter cede às exigências de Lajos apenas pela ilusão que criou ao longo da vida de que Lajos de facto a amou e que a sua vida podia ter sido completamente diferente se Vilma, a sua irmã, não os tivesse separado. No entanto, tudo isso não passou de uma ilusão na qual Eszter decidiu acreditar fosse por solidão, desespero ou frustração.

Para mim, o simples facto de Eszter nos decidir contar o que de facto aconteceu naquela última visita de Lajos é um indicativo de que ela sabe que foi vítima de uma grande injustiça, e que pretende deste modo repor a justiça à sua maneira.

Esta é a história de Eszter mas podia ser a história de qualquer outra pessoa, uma história sem grandes enredos, sem um grande número de personagens, mas  com uma verosimilhança com a vida incrivelmente natural e uma qualidade literária acima da média, ou não fosse escrita por um dos maiores nomes da literatura do seu tempo: o grande Sándor Márai.

O tom depressivo, fatalista e abertamente moralista faz-nos sentir uma certa desmotivação em relação à história mas o objetivo desta obra não é entreter mas sim fazer pensar, obrigar-nos a olhar para dentro de nós próprios para a nossa vida, as nossas escolhas, os nossos medos e para tudo o resto que nos define.


O melhor: A beleza das palavras de Sándor Márai.

O menos bom: A passividade de Eszter face ao seu destino.

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