Quando as Girafas Baixam o Pescoço, Sandro William Junqueira | Opinião Livros

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Capa do livro Quando as Girafas Baixam o Pescoço.

Sinopse:
A mulher gorda gosta de comprar jacintos, o desempregado sonha com um prato de goulash e há duas irmãs que andam a costurar linhas complicadas entre elas. 
De vez em quando, nos intervalos dos barulhos da cidade, ouve-se pelas paredes uma música de Brel, rosas a crescer ou um programa sobre a vida animal - como é que a cabeça das girafas não rebenta se está tão longe do coração? 
Em comum, entre os pés que fazem barulho em cima da cabeça e os pés que incomodam quem está em baixo, só a gaiola de cimento onde se tentam arrumar as vidinhas e, ainda assim, aquela vontade de ser pássaro.

Sandro William Junqueira continua a construir, agora em altura, um território literário de desconfortos e pulsões que estava ainda por cartografar, e volta à ficção com um livro feito de penas e betão.

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Opinião:

Hoje venho vos falar sobre um livro chamado Quando as Girafas Baixam o Pescoço de um autor que desconhecia de todo, que é Sandro William Junqueira. Conheci o Sandro William Junqueira pessoalmente num encontro com o escritor na minha biblioteca municipal e gostei muito dele. Achei que é um homem bastante "terra a terra" e acima de tudo muito humilde. Ele disse algo que achei muito verdadeiro: "O homem tem a necessidade de criar algo para preencher um vazio que tem dentro de si.". Eu nunca tinha pensado nisso e agora que penso, acho que é realmente verdade.

Mas falando concretamente deste livro, quando comecei a lê-lo pensei que era composto por pequenas histórias sem qualquer relação entre si, mas ao longo das suas páginas fui percebendo que afinal estava tudo ligado e as mensagens sob as palavras escritas eram muito mais profundas do que pareciam à primeira vista. Além disso, este livro aborda temas bem pesados como a violência doméstica, a bulimia e outros que fazendo parte do dia a dia são igualmente delicados como a velhice, a obesidade e o desemprego, entre outros.

Todas as personagens deste livro vivem num edifício composto por numerosos apartamentos e notamos que apesar dessas personagens viverem separadas apenas por paredes finas, elas não se conhecem realmente e estão completamente sós. Sós nas suas dores, nos seus segredos, enfim nas suas vidas, algumas delas bastante problemáticas.

Acho muito interessante que o autor não nomeie a maioria das personagens colocando-lhes designações como "a mulher gorda", "o homem desempregado", "o adolescente musculado", "o viúvo", "o velho" e por aí fora. Também não nos é possível identificar o tempo e o local onde decorre a ação, o que se torna muito inquietante, porque todos nós costumamos procurar referências nas obras que lemos, que nos permitam uma certa familiarização com a obra, mas acabamos por não sentir essa falta neste livro, uma vez que tudo se torna mais pessoal, mais introspetivo digamos assim.

Quando as Girafas Baixam o Pescoço é um obra diferente e revolucionária. De acordo com o seu autor, esta obra tem um ligação direta com os seus outros livros. Algumas personagens deste livro fazem parte dos seus outros livros e até certos locais são novamente revisitados.

Ao longo de toda a obra também estão patentes várias referências a grandes obras da literatura como no caso da Odisseia de Homero.


O melhor: A ligação entre todas as histórias.

O menos bons: Talvez a falta de identificação das personagens e do local onde decorre a ação torne as histórias um pouco impessoais, mas ao mesmo tempo torna tudo mais introspetivo. Portanto, não tenho a certeza que este seja um ponto realmente negativo da obra.
 

Sobre o autor:

Sandro-William-Junqueira
Sandro William Junqueira nasceu em 1974 em Umtali, na Rodésia.
 Experimentou a música, escultura, pintura. Foi designer gráfico. Diz poesia e trabalha regularmente como ator e encenador. Leciona expressão dramática. É autor de projetos e ateliês de promoção do livro e da leitura.
 Publicou O Caderno de Algoz (Caminho, 2009), Um Piano para Cavalos Altos (Caminho e Leya Brasil, 2012). Foi um dos onze escritores da novela policial O Caso do Cadáver Esquisito (Associação Cultural Prado, 2011) e autor de um dos contos da coletânea Dez Contos para Ler Sentado (Caminho, 2012). Em 2012 foi considerado um dos escritores para o futuro pelo semanário Expresso.

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