Livros de Alice Vieira | Opinião Livros


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Eu desconhecia de todo a obra de Alice Vieira e, muito por acaso, surgiu a vontade de conhecer alguns livros desta grande autora de literatura infanto-juvenil portuguesa e não só, pois sei que ela tem alguns livros de poesia publicados, mas como não encontrei nenhum livro seu nesse registo, seguem os meus comentários sobre quatro livros de literatura infanto-juvenil da autora.

1- Úrsula, a Maior

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Capa do livro Úrsula, a Maior.

Sinopse:
Maria João, de 14 anos, é filha de pais divorciados (o pai é um homem de esquerda, da classe média; a mãe vive para os seus sonhos domésticos e um pouco distante da realidade). O livro mostra a sua relação com os seus amigos da escola e o modo como ela constrói o seu próprio eu, observando criticamente as regras e valores dos pais. Maria João ajuda também a construir a personalidade de outra rapariga: Xuxu. Esta, filha de um aristocrata amigo da mãe, tem de percorrer um longo caminho para ganhar o direito ao seu próprio nome: Úrsula.

Comentário:
A primeira obra que aqui apresento é Úrsula, a Maior, uma história leve e ao mesmo tempo carregada de significado, narrada por uma miúda de 14 anos chamada Maria João, cuja mãe insiste em trazer estranhas para partilhar o seu quarto, assim após a partida de Sara para casar com Simão, surge Úrsula, mais conhecida por Xuxu.
Xuxu é o completo oposto em relação a Maria João, tanto em personalidade como em aparência e, se de início, Maria João e Xuxu são como duas estranhas cujo único ponto em comum é partilharem o mesmo quarto, com o tempo Maria João vai ganhando empatia pela Xuxu e resolve ajudá-la, fazendo com que ela se torne mais assertiva e independente, ou seja mais parecida com a própria Maria João.
Gostei da Maria João com a sua personalidade pragmática e o seu modo de ser simples, sem grandes complicações. Filha de pais divorciados desde muito pequena, Maria João consegue gerir muito bem o choque de personalidades e mentalidades entre a casa da mãe, uma monarquista acérrima que não voltou a casar e parece ainda não ter aceitado bem o seu divórcio ocorrido à uma década e a casa do pai, um republicano inflamado, casado em segundas núpcias com Carolina, uma professora de Filosofia e fã de ópera, que Maria João adora e admira.
O sonho de Maria João é vir um dia a torna-se atriz, mas não uma atriz daquelas que aparecem na televisão e sim, uma atriz do Teatro Nacional ou então, se a primeira hipótese falhar, ser deputada da Assembleia da República. Sem dúvida uma jovem prevenida quanto ao futuro, a nossa protagonista.
Úrsula, a Maior é um livro curto escrito numa linguagem acessível, o que de resto era de se esperar dado o seu público alvo. Tenho pena de não ter descoberto esta autora mais cedo...

2- A Lua Não Está à Venda

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Capa do livro A Lua Não Está à Venda.

Sinopse:
Dona Estrela (uma viúva) é proprietária do café Lua Cheia, ponto de reunião e convívio de diversas "figuras" das redondezas. Beatriz é professora. A sua história entrelaça-se com as histórias e sonhos de pessoas vulgares (adultos e jovens) que vivem no mesmo bairro lisboeta. Um livro sobre a solidão, mas também sobre a boa vizinhança e o único modo como as pessoas vulgares conseguem sobreviver: com a cabeça cheia de sonhos e projetos.

Comentário:
A Lua Não Está à Venda foi sem dúvida uma surpresa, esperava um livro mais leve, mais voltado para o público adolescente, em vez disso encontrei um livro que fala de um tema bastante adulto: a solidão.
O café Lua Cheia é o espaço central onde se desenvolve toda a história, é à volta dos seus clientes e suas famílias, num qualquer bairro lisboeta e das suas histórias que vamos passeando os nossos olhos pelas páginas deste livro.
Sem ter propriamente um começo e um final, vamos tendo conhecimento sobre a vida de várias pessoas, dos seus medos, dos seus sonhos e das suas esperanças para o futuro, como diz na sinopse deste livro a maneira dessas pessoas sobreviverem é "com a cabeça cheia de sonhos e projetos".
D. Estrela é a proprietária do café Lua Cheia, uma viúva de cinquenta anos com uma filha de quinze anos chamada Júlia, a quem assim nomeou em homenagem ao seu ídolo Júlio Iglesias. A vida de D. Estrela pode ser atarefada, mas mesmo assim ela sente muito a falta do seu falecido marido, Casimiro.
Beatriz é a professora de História da escola onde estudam Júlia, Sílvia, Rui, Francisco e Miguel entre tantos outros adolescentes, Beatriz vive atualmente com o irmão João e o cão deste, Teobaldo, e tem que lidar, tal como o irmão, com o seu passado traumático às mãos de uma mãe abusiva cujas palavras feriam mais do que gelo.
Para além de D. Estrela e da professora Beatriz vamos vivenciando os problemas de várias outras pessoas, todas elas ligadas de algum modo ao café Lua Cheia.
Este foi o meu livro preferido das quatro obras que aqui apresento de Alice Vieira.

3- Um Fio de Fumo nos Confins do Mar

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Capa do livro Um Fio de Fumo nos Confins do Mar.

Sinopse:
No ano em que comemora 20 anos de actividade literária, Alice Vieira volta a surpreender-nos com este romance para jovens. Alice Vieira oferece-nos uma história actualíssima, em que a crítica mordaz é pontuada pelo seu humor, capacidade de construção de personagens e talento de fina observadora. Magnífico!

Comentário:
Maria Guilhermina, mais conhecida por Mina é uma adolescente com uma família atípica. Ela vive com a mãe e Nana, uma professora de piano francesa, atualmente reformada que a acolheu e à sua mãe e que ela considera como uma avó. Para além disso, há ainda o namorado mais novo da mãe, Crispim, um cinéfilo e comunista convicto que ela já considera como o pai que nunca teve.
A vida de Mina corre como sempre até que Nana e Crispim a incitam a procurar a sua avó verdadeira, uma viscondessa que ela nem sabia que existia... Assim, ela acaba enviando uma carta para um programa de televisão que ajuda a procurar pessoas desaparecidas, apresentado por uma tal de Rute Isabel. É neste ponto que começa a história de Um Fio de Fumo nos Confins do Mar.
Enquanto aguarda a vez para contar a sua história no programa, Mina confessa para os leitores que não está assim com tanta vontade de encontrar a avó rica que expulsou a sua mãe de casa quando descobriu que ela estava grávida e seria mãe solteira. Nana, na altura governanta na casa deles, acolhe a jovem e o bebé no seu minúsculo apartamento.
A vida de Mina pode não ser recheada de aconchego e bens materiais, apesar de não lhe faltar ópera, romances escritos em francês e amor. A adolescente acaba por reconhecer que é feliz à sua maneira e que o resultado desta tentativa de encontrar os seus parentes não é tão importante assim.

4- Águas de Verão

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Capa do livro Águas de Verão.



Sinopse:
Águas de Verão é uma curta viagem ao passado. A narradora recorda a sua infância e a vida no seio de uma família muito tradicionalista, formal. Um dos romances mais poéticos de Alice Vieira, esta narrativa mostra como as ideias de respeito e de bom comportamento podem inquinar a alegria de viver, se impostas de forma rígida e como simples convenções. Apesar disso, os vários irmãos desta família problemática acabam por descobrir o sabor da alegria e o prazer do divertimento na personagem de um saxofonista bem-humorado com quem travam conhecimento num hotel de termas.

Comentário:
Águas de Verão é, como diz na sinopse, uma viagem ao passado, mais concretamente à educação conservadora e tradicionalista da narradora, a jovem Marta de 12 anos, a mais velha de quatro irmãos.
Os irmãos de Marta são António, Francisco e Bé (Maria Isabel). A educação dos meninos é incrivelmente rígida e cheia de regras e limitações.
Todos os anos, no final do Verão, as crianças são levadas pelos pais para um hotel de termas e é numa dessas viagens que as crianças conhecem Guadolfo, o novo saxofonista do hotel, um homem no mínimo e invulgar e que parece não ter crescido. É neste homem, o completo oposto dos seus pais, que estas crianças vão encontrar a sua infância perdida... Uma história bonita e de algum modo esperançosa.

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