Contos da Lua Vaga, Kenji Mizoguchi | Opinião Filmes

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Capa do filme Contos da Lua Vaga.

Título original: Ugetsu Monogatari
Realizador: Kenji Mizoguchi
País: Japão
Ano: 1953
Género: Drama, Fantasia
Elenco: Machiko Kyô, Mitsuko Mito, Kinuyo Tanaka, Masayuki Mori, Eitarô Ozawa, Sugisaku Aoyama, Mitsusaburô Ramon, Ryôsuke Kagawa, Kichijirô Ueda, Shôzô Nanbu, Kikue Môri, Ryûzaburô Mitsuoka, Ichirô Amano, Eigorô Onoe, Saburô Date, Fumihiko Yokoyama...
IMDb: https://www.imdb.com/title/tt0046478/

Sinopse:
Uma fábula de ambição, família, amor e guerra passada no meio de uma Guerra Civil Japonesa no séc. XVI.
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Uma das cenas mais bonitas de Contos da Lua Vaga.


Opinião:

Por se tratar de um clássico do cinema japonês, não me preocupei muito com os famosos spoilers, por isso tenham cuidado...

Recentemente, tive a oportunidade de assistir a Contos da Lua Vaga que é um clássico do cinema japonês, realizado por um génio desse tipo de cinema, Kenji Mizoguchi. Trata-se de um filme de 1953, um dos primeiros filmes a mostrar ao mundo a grande qualidade do cinema japonês. Kenji Mizoguchi tem neste filme uma das suas obras mais reconhecidas e discutidas ao longo do tempo. Apesar dos seus outros filmes serem também de grande qualidade.

Nos seus filmes, Mizoguchi tem sempre o cuidado de abordar a capacidade de amor e sacrifício femininos, uma homenagem notável às mulheres da sua vida. A sua mãe, que morreu quando ele era ainda muito novo, e a irmã mais velha, Sizuko, que criou a ele e aos irmãos mais novos, mas que chegou a ser vendida pelo pai para servir de gueixa. Por essa razão, Mizoguchi e o seu pai viveram em permanente conflito devido aos maus tratos que o último sempre aplicou às mulheres da família. Tudo isso se repercutiria na obra cinematográfica de Mizoguchi.

Falando deste filme propriamente dito muito à a dizer, um filme que apesar de ser a preto e branco é de uma beleza invulgar, de uma atenção aos detalhes quase beirando a loucura ou Mizoguchi não fosse conhecido pela sua obsessão compulsiva pela perfeição das cenas que gravava, exigindo a repetição das cenas vezes sem conta para desespero dos seus atores.

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O aparecimento da bela e misteriosa Dama Wakasa irá despoletar parte dos acontecimentos narrados neste filme.

Contos da Lua Vaga
narra a história de dois homens que, não contentes com as suas vidas simples, ambicionam mais. Genjuro, um agricultor que é também um grande oleiro, sonha fazer muito dinheiro com as suas peças de olaria, Tobei, seu vizinho e cunhado sonha ser samurai, mas por não ter dinheiro para comprar uma armadura e uma lança não é levado a sério pelos outros. Estes homens ambiciosos combinam dividir o dinheiro que conseguirem com a venda das peças de olaria entre eles, mas as coisas não correm como o previsto, uma vez que o país está a ser assolado por uma violenta guerra civil e um grupo de soldados pilha a aldeia. Conseguindo resgatar a maioria das suas peças, Genjuro e Tobei partem juntamente com as suas esposas e o filho ainda pequeno de Genjuro num barco rumo à cidade para vender as ditas peças. A partir daqui o caminho dos protagonistas será tortuoso, principalmente para as suas jovens esposas, vítimas da ambição egoísta dos próprios maridos.


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Miyagi e Ohama trabalham para manter o "sonho" dos seus maridos.

Enquanto Tobei foge da esposa para se tornar samurai, a sua esposa Ohama é emboscada e violada por um grupo de soldados. Enquanto Genjuro deixa-se seduzir pelas regalias que a vida numa mansão com a jovem Dama Wakasa lhe oferecem, a sua esposa Miyagi tenta regressar sozinha a casa com o seu filho pequeno e quando está prestes a consegui-lo acaba morta por um grupo de assaltantes.
 
Tobei reencontra a esposa já como samurai para descobrir que ela se tornou numa prostituta para poder sobreviver e Genjuro descobre que a jovem Wakasa é na realidade um fantasma e que tudo aquilo que tem vivido não passa de uma ilusão. E assim voltam os dois homens para casa sem dinheiro, sem fama e sem glória, mas profundamente marcados pelo que aconteceu.

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Genjuro e a Dama Wakasa.

As mulheres deste filme são as suas verdadeiras vítimas. Desde a mulher de Genjuro que sacrifica a sua própria vida, à mulher de Tobei que sacrifica o seu corpo até à Dama Wakasa que sacrifica o seu espírito. Todas elas são vítimas da ambição dos homens e do tempo de guerra em que vivem.

As cenas mais fascinantes deste filme são aquelas que envolvem a vida idílica de Genjuro com a Dama Wakasa, sendo o cenário idilicamente belo um apanágio para o facto de se tratar apenas de uma ilusão.

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Um dos cenários maravilhosos do filme.

Concluindo, Contos da Lua Vaga é um filme poeticamente belo com uma mensagem com tanto de bela quanto de triste, mas profundamente marcante.


O melhor: A fotografia e os detalhes incríveis dos cenários.

O menos bons: Não é uma crítica ao filme em si, até porque na altura não havia cinema a cores, mas o facto do filme ser a preto e branco retira-lhe muita da beleza aplicada aos seus cenários.

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