Trilogia Entre Mundos, Laini Taylor


A Trilogia Entre Mundos é uma série de literatura fantástica composta por três livros da autoria de Laini Taylor. As obras seguem a história de Karou, uma adolescente à primeira vista normal, mas que ao longo da história vamos descobrir ser, afinal, bastante invulgar.

Um estrondoso sucesso internacional, a Trilogia Entre Mundos foi publicada originalmente em 2011 nos EUA. No ano em que foi publicado o primeiro livro da trilogia, Laini Taylor talvez não antecipasse o estrondoso sucesso que A Quimera de Praga iria alcançar: além de excelentes críticas, foi considerado o melhor livro do ano para o The New York Times, Publishers Weekly, Kirkus Review, Barnes & Noble Review, Locus (Magazine of Science Fiction & Fantasy), ABC Best Children's Book Catalog e School Library Journal. Foi ainda finalista dos Prémios Andrew Norton, Children's Choice Book Awards Teen Book of the Year e vencedor do Oregon Spirit Book Award. O sucesso do livro foi também assinalável em termos comerciais, estando presente no primeiro lugar de vendas da Amazon na categoria de «Jovens Adultos» em 2011.

Laini Tayklor é autora de livros de fantasia, tendo publicado anteriormente a série Dreamdark e o romance finalista do National Book Award Lips Touch: Three Times. Considerado por muitos livreiros e meios de comunicação como o melhor livro do ano de 2011/2012, A Quimera de Praga é o primeiro volume de uma trilogia, com direitos de tradução vendidos para mais de 30 países e cuja adaptação cinematográfica está a cargo dos estúdios da Universal Pictures.

Seguem abaixo as minhas opiniões, anteriormente publicadas no site Segredo dos Livros, relativamente a cada um dos livros que compõem esta trilogia:


1- A Quimera de Praga

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Sinopse:
Pelos quatro cantos do mundo, marcas de mãos negras começam a aparecer nas portas, gravadas a fogo por estranhos seres alados, saídos de uma fenda no céu.
Numa loja escura e empoeirada, o abastecimento de dentes humanos de um demónio começa a ficar perigosamente reduzido. E nas ruelas labirínticas de Praga, uma jovem está prestes a embarcar numa jornada sem retorno.
O seu nome é Karou. Karou não sabe quem é, nem porque vive dividida entre o mundo humano e a sua família de demónios, mas crê que as respostas podem estar para lá de uma porta nos recantos sombrios de uma loja, ou no confronto com um completo desconhecido, de olhar abrasador e aparência divina - o anjo que queimou as entradas para o seu mundo, deixando-a só.

No início da leitura, não pude evitar sentir-me um bocado desiludida, uma vez que me pareceu estar perante um romance adolescente, com alguns toques de fantasia. Não tenho nada contra, alguns livros deste género são bastante bons; mas, pela sinopse, imaginei uma história diferente, mais dentro do meu género de eleição, o fantástico. Contudo, ao fim de alguns capítulos, finalmente, a história dá uma volta de 180 graus e descola no sentido certo.

Karou é uma jovem de dezassete anos, estudante de artes numa prestigiada escola de Praga, aparentemente normal, não fosse o seu cabelo azul, tatuagens invulgares, o facto de ser especialista em artes marciais, a capacidade de pedir pequenos desejos usando contas de um estranho colar e ser filha adotiva de uma família de quimeras (seres vivos cujos corpos possuem partes humanas e animais).

A família de Karou é realmente invulgar. Achei Isza um amor, apesar de ser parte serpente, pois ela foi como uma mãe para a jovem. Brimstone, por seu lado, revelou-se uma personagem extremamente ambígua, do meu ponto de vista. Se, em parte, foi como um pai para Karou, por outro lado, sempre a tratou com uma certa frieza e distância. A melhor amiga de Karou, Zusana, era bastante incongruente; às vezes, parecia mais responsável e madura que Karou, noutras, uma miúda imatura e fascinada. Não gostei particularmente dela e foram os seus diálogos infantis com Karou que me maçaram na fase inicial da história. O ex-namorado de Karou, Kaz, é o típico rapaz convencido que se acha o centro do mundo; sempre que ele aparecia, era muito divertido observar o seu comportamento extravagante e inconsequente.

Aquela sensação de vazio e falta de identidade que sempre acompanhou Karou ao longo de toda a vida, tem uma razão de ser bastante surpreendente. O facto da autora nos ir revelando a verdade aos poucos, ao mesmo tempo que Karou a vai descobrindo, é bastante bem conseguido e permite-nos criar uma maior empatia por ela. Outro mistério bastante denso é a utilização dos dentes que Karou recolhe para Brimstone. Para que servem todos aqueles dentes em colares? A resposta é surpreendente.

A relação entre Karou e Akiva foi bastante mal explorada, sob o ponto de vista sentimental. Todavia, não deixa de ser uma relação lindíssima, nascida no meio da morte e desolação. Espero que, nos volumes seguintes, o seu amor consiga sobreviver a tantos obstáculos, privações, dor e vinganças, mas o caso parece ser mesmo muito complicado. Não sei como a autora vai conseguir juntar estes dois… Anjo e demónio, separados por gerações de ódio e com muito pouco em comum. Mas espero que a sua relação se torne mais forte e estável.

A esperança (significado do nome de Karou na linguagem das quimeras) e a traição parecem ser os temas que Laini quis desenvolver neste volume: a ânsia de Karou em saber a verdade, mesmo achando que sairá magoada; a luta milenar das quimeras contra os anjos, mesmo sabendo que nunca os conseguirão derrotar, limitando-se a travar batalhas sangrentas sem fim, na esperança de que surja algo que lhes trará, finalmente, a paz. A traição de Chiro? A traição de Akiva? Será que existem diferenças entre estas duas traições para Karou?

Tenho esperança de que, no próximo volume, a autora nos conte sobre o início desta guerra interminável entre anjos e quimeras. Como foi que as quimeras escravizadas acabaram por se revoltar?

Uma tradução literal do título em inglês Daughter of Smoke and Bone seria muito mais correta. Quem ler ou leu o livro entenderá o que quero dizer.

Este é, sem dúvida, um livro muito introdutório, apesar de uma premissa que apontava para muito mais. Espero um segundo volume muito mais promissor.


2- Dias de Sangue e Glória

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Sinopse:
Karou, antiga estudante de Arte, quimera revenante e aprendiz de ressurrecionista, tem finalmente as respostas que sempre procurou. Sabe quem é e o que é. Porém, com este conhecimento vem outra verdade que ela daria tudo para desfazer: amou o inimigo e foi traída, e um mundo inteiro sofreu por isso.
Agora, sacerdotisa de um castelo de areia numa terra de poeira e estrelas, profundamente só, Karou tenta recriar o universo do seu passado, contribuindo, com a sua dor e a sua mágoa, para a volta gloriosa das quimeras.
Porém, sem Akiva, e sem o seu sonho de amor partilhado, o caminho da esperança afigura-se impossível de trilhar.

Repleto de desgosto e beleza, segredos e escolhas impossíveis, Dias de Sangue e Glória encontra Karou e Akiva em lados opostos de uma guerra tão antiga como o tempo.


Em primeiro lugar, quero dizer que todas as capas dos livros desta trilogia são lindíssimas, mas esta é a mais bonita na minha opinião.

Depois do primeiro volume, esperava que este segundo livro levantasse o véu sobre o mundo de Eretz, um mundo paralelo ao nosso, habitado por anjos e quimeras, um local onde decorre uma guerra milenar. Assim foi.

Voltamos a encontrar, em lados opostos deste conflito, Akiva e Karou, anjo e demónio, separados por gerações de ódio e acontecimentos terríveis. A incapacidade de Karou para perdoar Akiva e, principalmente, a si própria por se ter apaixonado por ele, leva-a a uma maré auto-destrutiva , que destrói não só a si própria, mas também muitas outras pessoas, vítimas inocentes de um conflito violento e sanguinário.

Neste livro, temos um vislumbre da guerra e das suas terríveis consequências para ambos os lados. Os líderes influenciam o destino de milhões e a vida de inocentes é posta em causa, principalmente as crianças, o elo mais fraco de qualquer guerra. A lealdade de cada lado é abalada, uma vez que ódio gera apenas mais ódio, num círculo interminável de violência. Mas também vislumbramos esperança, uma vez que muitos soldados estão cansados deste círculo interminável de violência.

A autocomiseração de Karou é algo difícil de tolerar ao longo de mais de metade do livro. Estamos perante uma rapariga frágil, solitária e fraca que se deixa manipular cegamente sem questionar o terror que, ela própria, está a criar/soltar no mundo. Ela até traz as quimeras para o mundo humano... As suas atitudes são, na maioria das vezes, incompreensíveis. Como pode Karou viver e trabalhar lado a lado com o homem responsável pela sua morte, enquanto Madrigal, e não conseguir perdoar Akiva, cujo pecado foi entrar numa espiral de vingança e morte contra o povo que levou a mulher que amava até ao cadafalso com aplausos e urros de alegria e tão cruelmente a executou à sua frente?

Os comportamentos de Karou são bastante indignos daquilo que Brimstone sonhava e que o levou a dar-lhe o nome de “esperança” na linguagem quimera. Ele sonhava com uma heroína que, juntamente com Akiva, levaria ambos os povos à paz, a um mundo refeito. Será que Karou ainda vai a tempo?

Das novas personagens que nos são apresentadas, adorei o Ziri, leal, justo, bondoso e com uma capacidade de sacrifício para lá de admirável. Das personagens já existentes, tive oportunidade de conhecer melhor o Akiva, altruísta, capaz de amar incondicionalme nte, mesmo quando humilhado e desprezado, com um sonho inabalável de paz e uma esperança inquebrável. Liraz foi uma verdadeira surpresa; rude e forte, apresentou um lado mais humano e frágil, sendo uma das personagens que sofreu um maior desenvolvimento ao longo da história, pelo menos até este ponto. Zuzana e Mik foram um surpresa agradável, apresentando neste arco narrativo algum equilíbrio entre humor e tragédia. Mik trouxe música. Zuzana amizade verdadeira. Ambos alegria de viver. Issa foi um doce como sempre. Thiago revelou toda a sua tirania e violência. Joram e Jael, ódio e crueldade.

As atitudes auto-destrutiva s de Karou, a sua teima em culpar Akiva por todos os seus males, impediram um bocado a narrativa de evoluir. Talvez uma tentativa de Laini prolongar a história e tirar o máximo partido comercial de uma trilogia. Mas não podemos culpá-la por isso.

Um livro melhor do que o primeiro, mas que não deixa de apresentar as suas falhas e muitas pontas soltas, que só serão fechadas no derradeiro título da trilogia - Sonhos de Deuses e Monstros, porque todos eles sonham com um mundo melhor, sem guerra. O sonho de Karou e Akiva, partilhado por Brimstone e por muitos outros.


3- Sonhos de Deuses e Monstros

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Sinopse:
Dois mundos estão à beira de uma guerra cruel. Através de um assombroso ardil, Karou assumiu o controlo da rebelião das quimeras e tem a intenção de as desviar do caminho da vingança extrema. O futuro depende dela.
Quando o brutal imperador serafim traz o seu exército para o mundo humano, Karou e Akiva estão finalmente juntos - se não no amor, ao menos numa aliança provisória contra um inimigo comum. É uma versão alterada do seu antigo sonho, mas ambos começam a ter esperança de que será possível forjar um destino alternativo para os seus povos e, talvez, para si próprios.
Porém, com ameaças ainda maiores a desenharem-se, serão Karou e Akiva fortes o suficiente para se erguerem entre anjos e demónios?

Das cavernas dos Kirin às ruas de Roma, humanos, quimeras e serafins lutam, amam e morrem num cenário épico que transcende o bem e o mal, nesta impressionante conclusão da trilogia bestseller Entre Mundos.


Com este Sonhos de Deuses e Monstros, chegou ao fim mais uma grande trilogia de fantasia, com muita ação, reviravoltas surpreendentes, personagens complexas

Akiva e Karou, anjo e demónio, dois inimigos naturais que são, na verdade, duas almas gémeas inseparáveis, dois pólos opostos que se atraem para lá de todas as adversidades que se impõem no seu caminho. Neste livro, mais do que em qualquer um dos anteriores, testemunhamos a grande ânsia dos protagonistas em terminarem juntos. Quem mais nos consegue derreter o coração é Akiva com o seu jeito ao mesmo tempo amoroso e prático. Uma personagem marcante com o seu coração de ouro, olhos de fogo e sonhos de amor e paz, é impossível não gostar dele. Já Karou apresenta uma personalidade insegura e pouco coerente, revelando uma imaturidade típica de uma adolescente, mas, devido ao caráter duro da vida que levou enquanto Madrigal, uma vida de soldado quimera, deveria apresentar mais maturidade e segurança nas suas atitudes.

Akiva foi o verdadeiro pilar da revolta que juntou anjos e quimeras contra o império. Ele fez o que tinha que ser feito, mesmo o trabalho “sujo”. Foi ele quem forjou uma aliança entre dois inimigos mortais e a tornou estável com base na sua fé. Mas não convém que esqueçamos o papel de Ziri, o jovem Kirin que teve um papel fulcral nos acontecimentos. Na minha opinião, foi a personagem que mais sofreu neste livro, destituído da sua identidade e da sua própria pele. Liraz também esteve muito bem, com uma mudança de atitude bastante progressiva e credível. Ela e o Ziri tornaram-se num casal bastante fofo.

O final foi estranho. A meu ver, mais parecia um começo do que um fim. Eliza foi uma personagem completamente desnecessária para a guerra entre anjos e quimeras. Além disso, acabou por complicar

Desde que foram mencionados, no primeiro volume desta trilogia, que andei ansiosa por conhecer a história por detrás da tribo dos Stelianos, mas fiquei desiludida com eles, mais por me parecerem o completo oposto do Akiva e pela sua falta de carisma e empatia, do que pela sua falta de poder. Os Stelianos eram de facto muito poderosos, tão poderosos que sozinhos sustentavam o equilíbrio do Universo. No entanto, eram demasiado cinzentos e monótonos. E, além disso, constituíram um entrave para que o Akiva e a Karou acabassem nos braços um do outro, na altura que me parecia mais correta. Por essa, não lhes perdoo de maneira nenhuma.

No geral, gostei bastante desta trilogia, apesar das suas falhas. Com uma escrita leve e fluída, um enredo criativo e original dentro do género e uma história de amor cativante. Todavia, esperava mais e não consigo tirar da minha cabeça a impressão de que a autora se espalhou no final do livro, com aquela história dos Stelianos e das estrelas-deuses . A não ser que a Laini esteja a pensar continuar a história… Uma coisa é certa: com o final que nos apresentou, ela tem, como se costuma dizer, “bastante pano para mangas”.

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