Livro vs Filme: Sangue Quente, Isaac Marion


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Estou de volta com mais uma rubrica Livro vs Filme, a primeira deste ano, e para variar um pouco deixei Nora Roberts de lado e parti para a comparação do livro Sangue Quente de Isaac Marion com o filme a que deu origem, Warm Bodies. Segue abaixo a minha análise sobre as duas obras, mas quero ressaltar que independentemente do vencedor deste duelo, tanto o livro como o filme são obras que merecem ser assistidas.


O livro:

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Sinopse:
R é um jovem em plena crise existencial. É um zombie. Numa América devastada pela guerra, pelo colapso da civilização e pela fome incontrolável de hordas de mortos-vivos, R anseia por algo mais do que devorar sangue quente. Só consegue pronunciar alguns monossílabos guturais, mas a sua vida interior é rica e complexa, cheia de espanto pelo mundo que o rodeia e desejo de o compreender – bem como a si próprio. R não tem memórias, não tem identidade e não tem pulsação… mas tem sonhos. Depois de um ataque, R devora o cérebro – e, com ele, as memórias – de um rapaz adolescente, e toma uma decisão inesperada: não devorar a jovem Julie, a namorada da sua vítima, e até protegê-la dos outros zombies. Começa então uma relação tensa mas estranhamente terna entre ambos. Julie traz cor e vivacidade à paisagem triste e cinzenta da semi-vida de R. E a sua decisão de proteger Julie pode até trazer de volta à vida um mundo marcado pela morte…

Tão assustador quanto divertido e surpreendentemente terno, "Sangue Quente" é um livro sobre pessoas mortas que se sentem vivas, pessoas vivas que se sentem mortas – e o que podem sentir e fazer umas pelas outras.


Análise e pequeno resumo:


A sinopse deste livro cativou-me, tanto que iniciei a sua leitura com as mais altas expectativas. No entanto, o começo da história não foi propriamente atrativo. Diria até que o autor apresentava uma escrita demasiado crua e visceral (literalmente), cheguei, inclusive, a sentir-me enojada com certas descrições sobre os já conhecidos hábitos alimentares dos zombies.

Fosse sobre qualquer prisma, não me conseguia identificar com R, um protagonista invulgar. R era um zombie em todos os sentidos da palavra, mas tinha algo mais e foi esse “algo mais” que serviu de ponto de partida para o desenvolvimento do livro.

Foi quando R conheceu Julie, uma rapariga também ela única, que a história deu uma volta de 180 graus. R começou gradualmente a tornar-se humano. A pensar, a sentir e até a sonhar como qualquer um de nós. Se, no início não sentia qualquer empatia pelo personagem, comecei a gostar cada vez mais dele, até que passei a compreendê-lo. Considero que é quando nos identificamos com uma personagem que realmente nos apaixonamos por uma história e somos absorvidos por ela.

Para mim, a leitura é uma viagem. Vamos até onde o autor nos quer levar e é quando conseguimos chegar a esse destino que atingimos todos os desafios propostos com aquela leitura.

A mensagem deste livro é sobre esperança e redenção. Graças a R, um zombie inconformado, a humanidade que se julgava perdida encontra uma cura, que não é nada mais do que a esperança. Tal como R nos diz:

Estamos onde estamos, independentemente da forma como cá chegámos. O que interessa é para onde vamos a seguir. (pág. 95)
Vamos chorar, sangrar, desejar e amar e, assim, encontraremos cura para a morte. Seremos nós a cura. Porque queremos sê-lo. (pág. 244) 

Para mim, este livro é daqueles que primeiro estranha-se e depois entranha-se, mais do que uma história de amor, estamos perante uma história sobre o destino da humanidade. Aqui, perante o desapego para com a vida daqueles que supostamente tinham todo o direito a vivê-la, vivenciamos um forte apego à vida daqueles que aparentemente já não tinham o direito sequer a desejá-la.



O filme:

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Dados Técnicos
Título original: Warm Bodies
Diretor: Jonathan Levine
País: EUA
Ano: 2013
Género: Comédia, Horror, Romance
Elenco: Nicholas Hoult, Teresa Palmer, Rob Corddry, Analeigh Tipton, John Malkovich, Cory Hardrict

Sinopse: Em um mundo pós-apocalíptico, um zumbi romântico se apaixona por uma humana, e o envolvimento deles cria uma reação em cadeia. Ele quer provar que os zumbis podem mudar, mas o cenário indica uma batalha entre os vivos e os mortos-vivos.




Comparações e pequeno resumo:

R é um zombie inconformado com a sua pacata vida, que consiste em deambular lentamente pelo aeroporto abandonado onde vive com outros zombies, grunhir com o seu melhor amigo zombie, M, procurar comida que é como quem diz seres humanos fresquinhos e colecionar pequenos objetos que encontra. Tudo muda quando se alimenta do cérebro de Pery, namorado de Julie, e consegue ter acesso às memórias deste levando a jovem consigo para o aeroporto e a esconde, em parte para a proteger, por outra parte para ter alguém que lhe faça companhia. Um dos aspetos mais bem explorados no filme é a convivência entre R e  Julie e o modo como eles interagem um com o outro. Nicholas Hoult e Teresa Palmer conseguem criar um casal carismático, apesar de um estar morto e o outro não.

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Nicholas Hoult e Teresa Palmer são R e Julie.

No início do filme R nem consegue falar e, se no livro temos os seus pensamentos e tudo aquilo que sente transcritos para o papel, no filme temos um grande monólogo inicial que poderá ser maçador para os espetadores mais impacientes, mas que para mim funciona na perfeição, pois permite-nos criar mais empatia pelo pobre zombie que se sente solitário e ambiciona que a vida seja mais do que aquilo que as circunstâncias da vida lhe impuseram.

Em termos visuais a fotografia do filme está lindíssima, mudando os seus tons cinzentos para outros mais calorosos ao mesmo ritmo que R vai se tornando progressivamente mais humano. E a banda sonora está divinal, também ela a conferir o ritmo ao filme.

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R e M, dois zombies especiais...

Em relação às outras personagens que compõem a história, M é a personagem que mais se destaca no filme em relação ao livro, sendo que Cory Hardrict consegue emanar um carisma muito próprio com uma personagem sem expressões faciais, mas com olhares e pequenos gestos significativos.

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Vencedor:

Warm Bodies é um filme dos géneros comédia, romance e horror adaptado do livro Sangue Quente de Isaac Marion que conta com Nicholas Hoult e Teresa Palmer nos principais papéis. Curiosamente, esta adaptação cinematográfica de 2013 funciona às mil maravilhas num cenário improvável com um protagonista que é um zombie. Sim, R é um zombie que nem consegue falar a principio e um dos grandes desafios do filme foi tornar R gradualmente mais humano aos nossos olhos e aos olhos das outras personagens. Ao contrário do que tem acontecido com os posts anteriores desta rubrica, o grande vencedor deste duelo Livro vs Filme é… o filme:

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Poster do filme Warm Bodies.

A razão é simples, estamos perante um espetáculo visual bem conseguido com interpretações bastante consistentes num filme que não tenta ser uma obra de arte até porque nem é adaptado de uma obra de arte. O livro de Isaac Marion pode ter tido bastante sucesso, mas apresentou-se numa altura em que este tipo de obras estava tão em voga e bastou um ligeiro toque de originalidade para ter sucesso garantido.

Isaac Marion usa e abusa de situações satiricamente cómicas para nos surpreender e divertir, ao mesmo tempo que joga com a nossa capacidade de criar empatia com um protagonista invulgar, mas que mesmo assim  consegue reter mais humanidade do que muitos dos personagens humanos da história. A cura para R e os outros que o seguiram foi a esperança. A esperança em algo mais, num mundo em que a sobrevivência parece ser apenas aquilo que importa.

Comentários

  1. Nossa adorei. Você escreve muito bem.
    Se poder dar uma olhada no meu blogger ficarei agradecida.
    https://somaisumepisodioo.blogspot.com/

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