Clássicos da Literatura | A Quinta dos Animais, George Orwell

Livro A Quinta dos Animais de George Orwell

Nesta obra satírica, Orwell pretende "contar" uma história de corrupção e traição onde os animais criam uma sociedade utópica, porém alguns animais seduzidos pelo poder establecem uma ditadura e afastam outros animais que, eventualmente, seriam uma ameaça para a sua ditadura.


À já algum tempo que não atualizava a rubrica Clássicos da Literatura aqui no blog e posso dizer que escolher A Quinta dos Animais de George Orwell para voltar a esta rubrica foi aposta ganha. Afinal, não é todos os dias que esbaramos numa fábula tão genialmente paralela à realidade política e social do seu tempo. Estamos perante uma sátira prespicaz e mordaz ao regime comunista da Rússia, que ainda hoje é um dos livros mais vendidos no mundo.

Em relação à história propriamente dita, acontece que os animais da Quinta do Infantado estão super descontentes com as suas precárias condições de vida, já que o proprietário da quinta, o Sr. Reis, é um alcoólatra negligente que nem sequer os alimenta em condições, chegando mesmo esquecer-se de os alimentar quando toma valentes bebedeiras. Mas os sentimentos de revolta só começam seriamente a infiltrar-se no seu âmago quando o velho porco Major lhes fala dos seus sonhos e ideologias acerca de uma sociedade utópica em que os animais seriam livres e iriam trabalhar apenas para si, não para sustentar a vil criatura que é o Homem. Aqui julgo que entra claramente Karl Marx e as suas ideoligias políticas e sociais que foram a base para a criação do regime comunista na Rússia, postas em prática por Estaline e companhia, que n'A Quinta dos Animais são representados pelos porcos. 

A morte do velho porco Major, alguns dias depois, não demove  os animais dos seus sentimentos reacionários e, após mais um ato de negligência da parte do proprietário da Quinta finalmente acontece a tão almejada revolução que depõe o Sr. Reis e coloca os animais no comando.

No início as coisas até acabam por correr relativamente bem como os animais a tomar decisões em conjunto em prol do bem comum, mas há um animal, um pouco mais inteligente que os restantes, que acaba por assumir um papel de destaque na criação do novo regime da Quinta, trata-se do porco. Entre os porcos acabam por se destacar Napoleão, um ditador em ascensão, Bola-de-Neve, um visionário com discursos apaixonados e Tagarela, um manipulador nato, cada um deles com papéis diferentes para o desenrolar dos acontecimentos na Quinta.

Nesta fábula ímpar vamos notar que o regime idealizado pelo velho porco Major não será tão utópico como seria suposto, sendo que os porcos, dada a sua inteligência acima da média, pelo menos em relação aos outros animais, vão progressivamente ganhando poder sobre todos os outros animais até ao ponto em que eles, os porcos, se vão tornando cada vez mais tiranos e semelhantes, imaginem, ao homem.


A Quinta dos Animais é um livro pequeno, que se lê de uma assentada só, mas que causa um profundo impacto pelo seu brilhantismo e pela qualidade crítica de George Orwell que usa este livro como expressão máxima da crítica ao regime comunista posto em prática por Estaline na Rússia, seu contemporâneo.



George Orwell

Conhecido sobretudo por duas obras, A Quinta dos Animais e 1984, George Orwell foi uma figura controversa na sua curta vida, já que veio a falecer aos 46 anos. Nascido Eric Arthur Blair, em 1903, em Bengala, tinha apenas um ano quando foi para Inglaterra. O pai ficou na Índia e Eric seria educado pela mãe.

Frequentou uma escola católica, andou em colégios prestigiados e ganhou uma bolsa em Eton, mas contra tudo o que seria previsível, e por falta de dinheiro da família, não foi para a universidade. Aos 19 anos alistou-se na polícia imperial britânica na Índia e foi servir em Burma, atual Myanmar, que mais tarde seria cenário de alguns dos seus escritos.

O poder de observação, a atenção aos costumes e à realidade social e política fizeram com que Eric se entregasse cada vez mais à escrita, coisa que descobrira enquanto cronista e crítico no jornal que ajudara a construir em Eton. Isso, aliado a uma consciência política cada vez mais marcada, levou-o a abandonar Burma cinco anos depois. Andou meio itinerante, aceitando vários trabalhos para se sustentar, e, em 1933, publicava pela primeira vez com o nome George Orwell. Quatro anos depois foi como voluntário combater na Guerra Civil Espanhola ao lado da Frente Popular. Seria atingido na garganta pelo disparo de um falangista, das forças de Franco. Nesse período não gostou dos métodos dos comunistas da Aliança Republicana, apoiados por Estaline, e quando regressou a Inglaterra tornou-se num dos mais fervorosos opositores ao líder soviético entre os intelectuais de esquerda britânicos.

Durante a Segunda Guerra Mundial, trabalhou na BBC, foi próximo de escritores como T.S. Eliot, foi editor, cronista, ensaísta. O melhor exemplo do seu sentido crítico face ao estalinismo foi A Quinta dos Animais. O livro libertou-o de uma vida de dificuldades financeiras. É que apesar de bastante prolífico, nunca conseguira viver confortavelmente da escrita. Mesmo que o tivesse conseguido, fazia questão de viver pobremente. Ganhou dinheiro, mas continuou a comportar-se como se não o tivesse. O único conveniente, para ele e para nós, foi dar-lhe tempo para escrever 1984. Terminou-o em 1949, um ano antes de morrer de tuberculose aos 46 anos.

Fonte: Revista Visão

Comentários

  1. Oi, Sonia como vai? Este clássico é incrível. É uma das melhores obras de George Orwell. Poucas páginas para muitas críticas. Adorei sua resenha. Beijo!


    https://lucianootacianopensamentosolto.blogspot.com/

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    Respostas
    1. Oi Luciano :)
      Concordo, este livro é incrível.
      Confesso que ainda não li 1984, mas é uma leitura futura garantida!
      Obrigada.
      Beijo

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  2. Quando você ler 1984 você irá amar a leitura, pois é um livro maravilhoso. Quando o ler diga-me o que achou. Beijo!


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