Flores da Tempestade, Laura Kinsale | Análise do livro

 

Christian Langland, duque de Jervaulx, é dissoluto e arrogante. Mas é também um homem brilhante. Considerado um "génio" da Matemática, está a desenvolver uma teoria revolucionária com a ajuda do notável John Timms. Porém, esta parceria só é possível graças a Maddy, filha de John. Recatada e meiga, a jovem vive para ser os "olhos" do pai, que é cego há já algum tempo. Apesar de repudiar pessoas como Christian, Maddy não consegue evitar o fascínio que sente por ele. E quando Christian é dado como morto, a dimensão do seu próprio sofrimento surpreende-a profundamente…

O tempo passa e Maddy aceita trabalhar num asilo. Uma decisão que terá efeitos inesperados pois é lá que reencontra… Christian. O duque está vivo, sim, mas irreconhecível. Vítima de um trágico ataque, é tido como louco e abandonado por todos. A começar pela própria família, que tudo fará para o manter preso e açambarcar a fortuna. Frustrado com a sua incapacidade de comunicar, Christian é uma sombra do que foi em tempos. Maddy é a única a ver nele uma centelha do homem fulgurante do passado. A jovem está determinada a curá-lo, mas nunca poderia imaginar que a sua ânsia de o ajudar fosse alterar tanto as vidas de ambos… e uni-los no desejo… e no amor.

Hoje venho comentar aquele que já considero um dos romances históricos mais poderosos que li até hoje: Flores da Tempestade que narra a história de amor entre Christian Langland e Maddy Timms. Mas esta é também uma história de superação e perseverança, só possível, claro está, com o auxílio do amor, essa arma poderosa capaz de milagres maiores do que a própria vida. 

Um amor maior do que a vida é a melhor maneira para descrever esta bela história de amor entre duas almas opostas que acabam por se completar na perfeição, mas não sem antes passarem por inúmeros obstáculos, tanto externos como internos, ou seja, com origem no seu próprio âmago, nas suas crenças e até dogmas no caso de Maddy.

Christian é um duque, um homem poderoso que vive a vida de forma leve e intensa, fazendo uso dos seus recursos para possuir tudo aquilo que quer, mas, na verdade, a sua vida está longe de ser perfeita. Maddy é o seu oposto, uma jovem séria e responsável que é o único apoio do pai, um deficiente visual com uma grande paixão pela matemática, e que pertence a um grupo religioso com crenças profundas e um modo de estar na vida muito diferente daquilo que é comum. 

Maddy é uma Quaker, os membros deste grupo religioso com origem num movimento protestante britânico do século XVII, cuja denominação é Sociedade Religiosa dos Amigos ou simplesmente Sociedade dos Amigos, são conhecidos pela defesa do pacifismo e da simplicidade, rejeitando qualquer organização clerical, para viver no recolhimento, na pureza moral e na prática ativa do pacifismo, da solidariedade e da filantropia. Nunca tinha ouvido falar neste movimento e descobri que ele existe até aos dias de hoje.

Neste romance histórico de Laura Kinsale, uma autora cuja obra pretendo passar a acompanhar, temos duas personagens marcantes, cujos defeitos são aquilo que mais nos atrai em ambos.

Maddy Timms

Maddy pertence a uma seita religiosa, os Quakers e o seu modo de vida rege-se por conceitos como simplicidade e humildade em todos os seus sentidos. 

Personagem a quem falta alguma força interior no sentido de pensar por si própria, se impor e se adaptar às circunstâncias devido ao extremismo do movimento religioso a que pertence, Maddy é ao mesmo tempo uma mulher persistente e até corajosa, que numa dicotomia algo confusa toma atitudes imprevisíveis e bastante impulsivas. Umas vezes é extremamente corajosa, noutras demasiado cobarde.

Vive uma intensa história de amor com Christian, mas ao mesmo tempo sente que aquilo que vive vai contra tudo aquilo que são os seus valores morais e tudo aquilo que o movimento a que pertence representa, o que a coloca em constante conflito interno. Para além disso, os Quakers não aceitam o seu relacionamento com Christian e basicamente a colocam contra a parede, ou ele ou nós. Maddy é a personagem que mais amadurece interiormente ao longo da obra.

Christian Langland

Duque de Juveraux, belo, rico, jovem e um génio da matemática, tem tudo aquilo que deseja, contudo, a sua vida sofre um revés que o irá afetar tanto física como emocionalmente para o resto da vida. 

Dado como louco é colocado num hospício com métodos de tratamento arcaicos e violentos. Na época, a medicina não estava muito avançada e, tendo em conta os sintomas relatados no livro, torna-se óbvio para nós leitores que Christian sofreu um AVC (Acidente Vascular Cerebral) que lhe afetou o lado direito do corpo, que ele não consegue controlar, referindo constantemente que tem a sensação que aquela parte do corpo não lhe pertence mais e, principalmente, a fala. Christian não consegue se comunicar, daí julgarem-no louco.

Quando Maddy encontra Christian no asilo do primo, para onde vai trabalhar, ele está longe de ser o homem carismático que ela em tempos conheceu, mas ela consegue ver para além do exterior selvagem, consegue se comunicar com ele e ajudá-lo a recuperar aos poucos, num processo gradual que exige muita persistência de ambos.

Algo que notamos em Christian é que toda esta experiência dolorosa e com consequências esmagadoras e algumas irreversíveis o tornou numa pessoa mais terra a terra e decidida. No fundo, após encarar a fatalidade e imprevisibilidade da vida, ele torna-se mais assertivo e prático, daí o contraste intenso entre ele e Maddy passar a ser algo quase palpável neste livro.

Laura Kinsale, autora bestseller do New York Times, é vencedora do prémio Best Book of the Year da Romance Writers of America, e presença frequente nas listas de nomeados. Após uma breve carreira como geóloga, dedicou-se inteiramente à escrita. Flores da Tempestade, publicado pela ASA, foi eleito pelos leitores da Glamour Magazine e do Washington Post como Uma das Melhores Histórias de Amor de Sempre.

Laura e o marido dividem o seu tempo entre Santa Fé e o Texas.