Clássicos da Literatura | Cândido ou o Otimismo, Voltaire

 

Cândido ou o Otimismo de Voltaire

Publicada anonimamente em 1759 é logo identificado o seu Autor e nesse mesmo ano a obra conhece vinte edições, seguindo a sua fama para a Itália e Inglaterra onde é traduzida.

Voltaire foi o introdutor de um género de conto que utiliza a ironia para revelar criticamente a realidade do mundo em que vivia: utiliza a ficção como interrogação e os seus personagens agem por vezes em contradição com o senso-comum da época.

Em Cândido, o seu herói confronta-se regularmente com o otimismo veiculado pelas teorias de Leibniz (o melhor dos mundos possíveis), ou o seu nome não exprimisse precisamente a ideia da candura que o otimismo gera na adversidade através da existência do mal e da justiça divina.



Cândido ou o Otimismo de Volaire não foi uma leitura prazerosa, pelo contrário, tratou-se de uma espécie de sacrifício literário, mas daqueles que passam depressa. Se me perguntassem se tenho plena consciência de que estou perante uma obra clássica da literatura mundial, direi que não consegui perceber como esta obra se tornou tão influente, talvez pelo seu carácter crítico já que Voltaire, como o homem inteligente e iluminado que era, utilizou a sua obra como meio de "atacar" os seus críticos, rivais e toda uma série de acontecimentos e ideologias que iam mal na sociedade do seu tempo. 

O tom mordaz e satírico deste livro é a principal razão porque ele é tão importante, mas o nosso afastamento temporal da época em que foi escrito e a falta de proximidade para com as suas personagens tornam este livro menos pertinente do que foi na altura da sua publicação.

Cândido é um personagem que oscila entre os acontecimentos e que de uma maneira pouco dimensional não consegue interpretar da melhor forma tudo aquilo que vai presenciando. Ele é, sem dúvida, um otimista que tenta seguir sem questionar os ensinamentos filosóficos do seu mestre o Dr. Pangloss, que estavam tão na moda.

Cândido não foi criado para ser carismático, pelo contrário, é um personagem que age de modo pouco compreensível, em contradição com aquilo que seria expetável, não apenas para a época como para nós enquanto seres humanos. Claro que esta obra possui várias personagens, não apenas Cândido, mas todas elas, Pangloss, a menina Cunegundes, Cacambo, a Velha, entre outras, cada uma à sua maneira, são excêntricas, caricaturadas e pouco compreensíveis nos seus atos.

Ao longo de Cândido ou o Otimismo acontecem tantas coisas que acaba por se tornar difícil acompanhar a leitura da melhor forma, Cândido passa por tantos lugares, sofre tantos infortúnios e consegue testemunhar em primeira mão quase todos os grandes acontecimentos do seu tempo. A sua vida parece se desenrolar a um ritmo alucinante e torna-se difícil acompanhar tudo o que está a acontecer e ter tempo para criar a devida empatia pelo protagonista, cujas ideologias parecem-nos demasiado irrealistas para serem levadas a sério, assim Voltaire acaba por conseguir expor tudo aquilo que está errado com o pensamento filosófico do otimismo.

O facto de me reger pela empatia com as personagens para apreciar um livro, faz com que não aprecie muito obras com tons mais marcadamente filosóficos e impessoais como Cândido ou o Otimismo que não apela aos meus sentimentos e, por essa razão tão simples, não consegui criar uma boa relação com o livro e com Voltaire, cujo nome já conhecia, mas a obra ainda desconhecia de todo.




Voltaire
Voltaire

François-Marie Arouet nasceu em Paris no ano de 1694 e foi registado como filho de um bem-sucedido notário parisiense, François Arouet, e da sua esposa, embora ele próprio suspeitasse ser filho da Sra. Arouet e de um poeta menor.

Após estudos num colégio jesuíta, no qual apreciou sobretudo as peças de teatro escolares, decidiu lançar-se numa carreira literária e na sociedade: uma e outra lhe valeram duas estadias na prisão da Bastilha (por uns panfletos satíricos primeiro, por uma briga com um nobre depois). Ao sair da prisão deu a si próprio o nome de Senhor de Voltaire. 

Foi dramaturgo, historiador, filósofo, divulgador científico, homem de negócios, membro da Academia das Ciências de França, agricultor, proprietário, investidor de capital de risco, ativista dos direitos civis e humanos, homem da corte desterrado no campo e, sobretudo, o autor mais célebre, admirado e odiado do seu tempo.

Morreu em 1778, pouco depois de regressar a Paris após um exílio de mais de vinte anos. A sua obra é extensíssima e nunca foi esgotada numa só coleção. A Voltaire Foundation, de Oxford, prevê publicá-la em 85 volumes. Cândido ou o Optimismo é considerado o seu melhor «conto filosófico» e é uma das melhores novelas da história da literatura.

Comentários

  1. Oi, Sonia. Como vai? Posso imaginar as controvérsias encontradas nesta obra, mas mesmo com suas ressalvas eu leria, se tivesse oportunidade. Beijo!

    https://lucianootacianopensamentosolto.blogspot.com/

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    1. Oi Luciano.
      Se tiver oportunidade aconselho-o a ler "Cândido ou o Otimismo", agora um pouco mais afastada da leitura, digamos assim, percebo melhor as críticas de Voltaire. Não me arrependo de ter lido esta obra enriquecedora. A principal razão para ter sido tão dura com a obra foi mesmo a minha falta de empatia pelo protagonista.
      Beijo

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