Em Troca de Um Coração, Jodi Picoult | Opinião Livros

Em Troca de Um Coração
Capa do livro Em Troca de Um Coração de Jodi Picoult

Sinopse:
Aceitava realizar o último desejo de um condenado para salvar a vida de um filho? Com uma sensibilidade literária invulgar, Jodi Picoult conduz uma vez mais o leitor a uma encruzilhada moral. Como é que uma mãe concilia a trágica perda de um filho com a oportunidade de salvar a alma de um homem que odeia?


 Shay foi condenado à morte por matar a pequena Elizabeth Nealon e o padrasto. Onze anos mais tarde, a irmã de Elizabeth, Claire, precisa de um transplante de coração e Shay, que vai ser executado, oferece-se como dador. Este último desejo do condenado complica o plano de execução, pois uma injecção letal inutilizaria o órgão. Entretanto, a mãe da criança moribunda debate-se com a questão de pôr de parte o ódio para aceitar o coração do homem que matou a sua filha. Picoult hipnotiza o leitor com uma história de redenção, justiça, e amor.


Opinião:


Este é o segundo livro de Jodi Picoult que tenho o prazer de ler. Em Troca de Um Coração retrata uma história complexa, na qual, sob o ponto de vista de uma série de personagens, navegamos por um mar de questões sejam elas éticas, religiosas e morais.

Um ponto muito interessante neste livro é o modo como se encontra estruturado com cada personagem a narrar uma parte da história na primeira pessoa, sendo que a autora utiliza uma caligrafia diferente para cada interveniente, nunca tinha visto este tipo de abordagem e achei-o bastante original.

Os narradores desta história são: Lucius DuFresne, um homossexual seropositivo em estado terminal, condenado a prisão perpétua e que se encontra no nível 1 (segurança máxima) do estabelecimento prisional de Concord, Lucius foi condenado por ter assassinado o namorado Adam, quando o encontrou na cama com outro homem, torna-se no melhor amigo de Shay Bourne e acredita que este possa ser uma espécie de Messias.

Michael, um jovem padre que batalha não com uma crise de fé, mas com a culpa de no passado ter feito parte de um júri que condenou um homem à morte, onze anos mais tarde, o destino leva-o novamente a cruzar-se com esse homem, Shay Bourne, Michael torna-se numa espécie de conselheiro espiritual de Shay e tenta se redimir do passado ajudando-o a conseguir atingir o seu último desejo: doar o seu coração a Claire Nealon.

Maggie Bloom, uma advogada da União Americana pelas Liberdades Civis que luta fervorosamente contra a pena de morte e pelos direitos humanos, é uma mulher intempestiva, cheia de garra nas suas convicções, mas com uma enorme falta de autoestima, que, de inicio verá em Shay uma oportunidade de atingir os seus próprios objetivos de chamar a atenção da opinião pública contra a pena capital, mas que acabará por desenvolver uma relação bastante próxima com Shay e sofrer pelo seu destino.

Por fim temos June Nealon, uma mulher que perdeu o marido e a filha supostamente às mãos de Shay Bourne e que atualmente se debate com a doença da única filha que lhe resta, Claire, que necessita de um coração para poder viver. Shay Bourne oferece o seu coração, mas até que ponto June estará desesperada para o aceitar? A vida da sua filha é mais importante que a vontade de ver a justiça ser feita ou até mesmo que a vontade de negar o último desejo a Shay?

De início julguei que esta história iria abordar, maioritariamente, o ponto de vista de June Nealon, mas afinal de entre os vários protagonistas foi aquela que teve menor destaque e desenvolvimento. Por outro lado, o padre Michael é talvez aquele que acaba sofrer um maior dilema e que, por ver as suas crenças abaladas, possui um maior destaque. É ele quem mais irá lutar por Shay e que mais fé acabará por depositar nele.

Lucius é um homem assombrado pelo passado e pela perda de um grande amor/obsessão. Adam é como um fantasma que o persegue e que está sempre com ele, por outro lado, Lucius podia ter sido uma personagem muito mais desenvolvida, pois possuía um enorme potencial e cujo real objetivo foi apenas o de nos apresentar os acontecimentos supostamente milagrosos que sucederam a chegada de Shay ao nível 1.

Maggie torna-se advogada de Shay,  numa altura em que este se encontra prestes a ser executado e, se tivesse sido advogada de Shay na altura em que este foi condenado tudo teria sido bem diferente.

Esta é uma história muito mais complexa do que a sinopse à partida nos indica. Não se trata apenas de aceitar ou não o coração de um condenado à morte. Trata-se de aceitar a própria pena de morte, o modo como a religião pode ser interpretada e usada pelo homem a seu favor. Trata-se de ajudar um homem a conseguir que o seu último desejo seja cumprido, o de morrer dentro das suas próprias convicções. Trata-se de aceitar que, por vezes, nós não conhecemos completamente as pessoas que amamos e que aquilo que parece ser a verdade incontestável pode não ser bem aquilo que à partida julgamos.

Jodi Picoult é de facto uma autora deveras talentosa, conseguindo pegar numa série de temas complexos e, de modo bastante simples e claro, fazer valer um ou outro ponto de vista. Por outro lado, neste livro, ela acabou por deixar pontas soltas bastante flagrantes e por não aproveitar melhor o ponto de vista de June Nealon que parecia, de algum modo, uma mulher bastante desequilibrada e de Lucius DuFresne, cuja relação com Shay não foi também aproveitada ao máximo.

Contudo, Em Troca de Um Coração não deixa de ser um livro espetacular, que após a sua leitura nos deixa com uma sensação de gratificação por o ler e nos faz pensar sobre fé e redenção sob uma nova prespetiva.

Uma história que para mim apenas confirma o talento de Jodi Picoult, mas que no início não deixou de me lembrar À Espera de Um Milagre de Stephen King...


Sobre a autora:

Jodi Picoult
Jodi Picoult

Jodi Picoult nasceu e cresceu em Long Island. Estudou Inglês e escrita criativa na Universidade de Princeton e publicou dois contos na revista Seventeen enquanto ainda era estudante. O seu espírito realista e a necessidade de pagar a renda levaram Jodi Picoult a ter uma série de empregos diferentes depois de se formar: trabalhou numa correctora, foi copywriter numa agência de publicidade, trabalhou numa editora e foi professora de inglês. Aos 38 anos é autora de onze best sellers e em 2003 foi galardoada com o New England Bookseller Award for Fiction.

Comentários

  1. Boa tarde Emilio, espero que estejas bem.

    Desculpa só agora te estar a responder, mas tenho passado por uma fase bastante atarefada da minha vida.

    Tenho muito gosto em te enviar uma carta dos Açores, e vou tentar fazê-lo ainda durante esta semana.

    Fiz uma breve visita ao teu blog e acho a tua iniciativa louvável. Espero sinceramente que consigas atingir o teu objectivo de possuir pelo menos uma carta de cada país do mundo.

    Os meus votos de paz, saúde e felicidade para ti e para a tua família.

    Sónia Melo

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