Uma Questão de Fé, Jodi Picoult | Opinião Livros

Uma Questão de Fé
Capa do livro Uma Questão de Fé de Jodi Picoult

Sinopse:
"Em Uma Questão de Fé", Jodi Picoult lança-se uma vez mais numa temática polémica sobre fé, traição, milagres e mistério… mas o fio condutor da narrativa é sempre a força do amor maternal.

Pela segunda vez no seu casamento, Mariah White apanha o marido com outra mulher, e Faith, a filha de ambos, assiste a cada doloroso momento. Após o inevitável divórcio, Mariah luta contra a depressão e Faith começa a conversar com um amigo imaginário. A princípio, Mariah desvaloriza o comportamento da filha, atribuindo-o à imaginação infantil. Mas quando Faith começa a recitar passagens da Bíblia, a apresentar estigmas e a fazer milagres, Mariah interroga-se se sua filha não estará a falar com Deus. Quase sem se aperceberem, mãe e filha vêem-se no centro de polémicas, perseguidas por crentes e não-crentes e apanhadas num circo mediático que ameaça a pouca estabilidade que lhes resta.


Opinião:
Talvez uma pessoa seja mais do que um corpo e uma mente. Talvez haja outra coisa que entre na mistura – não propriamente uma alma, mas um espírito que sugira que um dia possamos ser maiores, mais fortes do que agora somos. Uma promessa; um potencial.
 Ian Fletcher, pág. 394


Uma Questão de Fé é um livro poderoso pela mensagem que nos transmite e que deve ser lido com tempo e, acima de tudo, com uma grande abertura de espírito, não apenas pelo seu tamanho considerável, mas pela forte história que nos conta.

Mariah White é uma jovem mulher, casada e com uma filha de sete anos chamada Faith. Mariah planeia a sua vida ao mais pequeno pormenor, aparentemente, ela possui uma vida perfeita, mas acabaremos por ver que a sua vida está, na verdade, longe da perfeição. No passado, um acontecimento traumático levou-a a um acto extremo que a marcou para sempre, uma tentativa de suicídio. O seu marido, que a levou a esse acto com uma traição em flagrante, internou-a numa instituição para doentes mentais contra a sua vontade, lá ela descobre estar grávida e, mesmo assim, durante quatro meses é submetida a uma série de tratamentos que podem ou não prejudicar o bebé. É portanto, num mar de culpa que esta jovem vai vendo o avançar da sua gravidez.

Desde o nascimento da filha que Mariah tem tentado de modo obsessivo ser a mãe perfeita, mas é no seu enorme esforço que reside o seu maior erro, uma vez que acaba por se esforçar demasiado, o que faz com que não consiga se ligar verdadeiramente à filha. Entretanto, o marido, supostamente redimido, acaba por trazer a amante de longa data para casa onde a mulher e a filha os irão apanhar em flagrante. A partir daí começa esta história, na qual uma criança especial, capaz de realizar milagres e de falar com Deus, se torna mais próxima da mãe que adora e com a qual não conseguia interagir.

Acima de tudo esta é uma história de fé e amor entre mãe e filha. Pelo meio ainda temos tempo para conhecer uma das personagens mais charmosas de Jodi Picoult, o famoso e carismático Ian Fletcher.

Ao longo desta história é o coração das suas várias personagens que está em jogo, o coração de Mariah White, de Faith, de Ian Fletcher  e de várias outras personagens que, escolhendo ou não acreditar nas supostas visões de Faith vêem a sua vida ser afectada quer seja positivamente, quer seja negativamente pelos acontecimentos narrados neste livro.

A grande protagonista desta história é Mariah White, uma mulher que anteriormente havia batido no fundo, mas que se reergueu contra todas as expectativas para cuidar da filha que ama acima de tudo, inclusive, acima do seu amor obsessivo pelo marido que sempre a manipulou. É, curiosamente, o fim da relação de Mariah que permitirá que esta mãe possa finalmente ser a mãe que sempre ambicionou.

O intenso debate acerca da veracidade das visões de Faith acaba por se tornar secundário no meio de uma feroz batalha judicial pela custódia da menina. Pelo meio ainda temos tempo para perceber que existem advogados que não têm quaisquer escrúplos em denegrir a imagem de uma pessoa para atingir os seus objectivos de vitória, mas não irei revelar o resultado da derradeira luta da vida de Mariah White.

Enfim, um livro ao mesmo tempo forte e ao mesmo tempo mole, no sentido de nos fazer ver as coisas por um prisma mais terra a terra sem demasiados dramatismos baratos que, por vezes, nos tentam impingir.

Tardei em conhecer a obra de Jodi Picoult, porque, pelos seus temas fortes, julguei que eram livros que nos fariam chorar as pedras da calçada, afinal estava enganada e, é aí que reside o talento desta autora. A capacidade de nos passar grandes mensagens sem nos chocar em demasia.

Sobre a autora:
Jodi Picoult
Jodi Picoult
Jodi Picoult nasceu e cresceu em Long Island. Estudou inglês e escrita criativa na Universidade de Princeton e publicou dois contos na revista Seventeen enquanto ainda era estudante. O seu espírito realista e a necessidade de pagar a renda levaram Jodi Picoult a ter uma série de empregos diferentes depois de se formar: trabalhou numa correctora, foi copywriter numa agência de publicidade, trabalhou numa editora e foi professora de inglês. Aos 38 anos é autora de onze best sellers e em 2003 foi galardoada com o New England Bookseller Award for Fiction.

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